A importância de termos juvélicos

Classificar todos os relacionamentos como “hétero”, “gay” ou “lésbico” é uma abordagem limitante e prejudicial. Relacionamentos, em si, não possuem uma orientação definida; são as pessoas envolvidas que a possuem. Esse enquadramento restritivo exclui pessoas múlti, a-espectrais, não-binárias ou cisdissidentes, além de desconsiderar as dinâmicas de relacionamentos em culturas não ocidentais.

Pessoas que se atraem por mais de um gênero, por exemplo, enfrentam o apagamento contínuo de suas orientações e identidades. Um exemplo disso é o caso de dois homens em um relacionamento — um sendo bi e o outro pan — sendo rotulados como “relacionamento gay”, embora não haja nenhum indivíduo gay envolvido. O mesmo acontece com um homem poli e uma mulher omni, frequentemente vistes como um “casal hétero”. Esses exemplos ilustram como as orientações de pessoas múlti-espectrais são, com frequência, ignoradas e distorcidas.

Nesse contexto, o uso de termos juvélicos, que descrevem os relacionamentos de maneira mais inclusiva — como [grupo] capaz de sentir atração por [grupo], exclusivamente ou não ou um relacionamento entre [grupo] e [grupo] pode ser descrito como [descritor] — serve para evitar reducionismos, apagamento e a imposição da heteronormatividade.

Os termos juvélicos, também conhecidos como o sistema GAG, podem ser empregados em conjunto com orientações ou como alternativas a elas. Podem ainda ser usados de maneira independente, dependendo do contexto, e, em alguns casos, podem ser considerados orientações. Eles foram desenvolvidos com o objetivo de possibilitar a descrição das relações e atrações sem a necessidade de recorrer a definições mais restritas ou excludentes.

Esses termos geralmente definem a atração de indivíduos de um grupo por aqueles de outro. Podem ser usados para descrever casais, mas também para especificar atrações dentro de uma orientação (por exemplo, uma pessoa pode se identificar como poliembinárica e mascúlica, indicando atração por pessoas não-binárias e homens), expressar uma prioridade ou preferência dentro de uma orientação (como alguém que se identifica como bissexual e trízica, destacando sua atração por mulheres, apesar de também se sentir atraído por outros gêneros), ou até mesmo para descrever uma atração com alguma indefinição quanto a outras (como uma mulher demi que se identifica apenas como sáfica após sentir atração por algumas mulheres, em vez de usar os termos “lésbique” ou “múlti”). Além disso, os termos juvélicos também abordam questões que envolvem agrupamentos baseados em atração, como a hipersexualização nas relações entre mulheres, a desaprovação social dessas relações e a heteronormatividade coerciva.

Exemplos de termos juvélicos incluem “aquileano”, que se refere a um homem atraído por homens, e “sáfica”, que designa uma mulher atraída por mulheres. Para uma lista mais abrangente e detalhada, consulte os sites Orientando e Múltiplas Identidades, onde esses termos são frequentemente apresentados de forma mais clara e acessível.

É importante lembrar que, embora esses termos possam parecer específicos ou desconexos para quem não vivencia experiências semelhantes, eles são extremamente valiosos para entender e validar as diversas vivências em relação à orientação e aos relacionamentos. São igualmente essenciais para discussões sobre agrupamentos baseados em atração. Como qualquer rótulo, é sempre possível optar por não utilizá-los, dependendo do contexto e da identificação individual.

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