Humor ou perpetuação de estereótipos?
É comum encontrar memes que utilizam a imagem da tesoura como metáfora para o sexo entre casais sáficos. Embora à primeira vista possa parecer uma piada inofensiva, essa representação acaba por reforçar estereótipos reducionistas e perpetua o cissexismo.
No contexto do "humor" relacionado a relações sáficas, a "tesoura" simplifica o relacionamento sexual entre pessoas sáficas a um único ato ou característica, ignorando a multiplicidade de vivências e experiências que compõem essas relações. Essa noção reducionista reafirma a ideia de que o sexo só é legítimo ou compreensível se envolver genitais específicos, desconsiderando as diversas formas de intimidade e prazer que vão além do contato genital. Assim, "memes"piadinhas" que recorrem a esse estereótipo alimentam uma perspectiva limitada que invisibiliza expressões de afeto que não atendem às expectativas cisnormativas e hegemônicas.
Além disso, ao reduzir as práticas sexuais de sáfiques a um estereótipo visual, esses memes acabam desconsiderando pessoas não-cis, intersexo, não-binárias etc., cuja sexualidade e identidade frequentemente são invalidadas ou fetichizadas. Esse tipo de representação contribui para o cissexismo, discriminação essa que muitas vezes recai sobre questões de genitalidade e que reforça o apagamento de identidades que fogem da normatividade. Dessa forma, as "piadas" fundamentadas em estereótipos desconsidera a complexidade das vivências dessas pessoas, reduzindo suas experiências a uma caricatura simplista que promove uma visão distorcida e limitada.
Ao perpetuar essas representações limitadas, continuamos a reforçar normas cisnormativas e perissexistas que silenciam e excluem as múltiplas vivências de pessoas LGBTQIAPN+. Reconhecer o impacto dessas narrativas e refletir criticamente sobre o tipo de humor que consumimos e propagamos são passos cruciais para transformar o imaginário social em um espaço que valorize a diversidade e respeite as diferenças. Em vez de recorrer a estereótipos reducionistas, podemos explorar formas de humor que evidenciem a riqueza e a complexidade das experiências humanas, contribuindo para uma sociedade verdadeiramente inclusiva e acolhedora.