Muita coisa sobre arromanticidade
A Semana da Consciência do Espectro Arromântico, celebrada anualmente, é um momento dedicado à reflexão, visibilidade e valorização das experiências arromânticas. Este ano (2025), ela ocorrerá de 16 a 22 de fevereiro, logo após o Dia de São Valentim, uma data amplamente associada à amatonormatividade, que centraliza as relações românticas. Mas o que significa ser arromântique e por que é fundamental discutir essa identidade? Nesta publicação, vamos explorar o conceito de arromanticidade e a sua trajetória histórica.
Sobre o evento
O primeiro evento criado para representar a arromanticidade foi a Semana da Conscientização Arromântica de 2014, organizada por um perfil do Tumblr chamado "arospecawarenessweek". Em uma postagem no final de outubro daquele ano, foi sugerido que a semana ocorresse entre os dias 10 e 17 de novembro, no mês seguinte à Semana da Consciência Assexual.
Embora houvesse sugestões para que o evento fosse celebrado próximo ao Dia de São Valentim (também conhecido como Dia des Namorades, celebrado em 14 de fevereiro, especialmente no hemisfério norte), a primeira Semana da Consciência Arromântica aconteceu conforme o planejado, começando em 10 de novembro e terminando em 17 de novembro de 2014.
Três meses depois, a ideia de mover a semana para fevereiro foi aceita, agora com um novo nome: a Semana da Consciência do Espectro Arromântico. O evento ocorreu pela primeira vez entre os dias 15 e 21 de fevereiro de 2015. A mudança de nome visou refletir a inclusão de todo o espectro arromântico, já que fora do Brasil, "arromântique" geralmente se refere apenas ao que chamamos aqui de "arromântique-estrite".
A Semana da Consciência do Espectro Arromântico é celebrada logo após o Dia de São Valentim, começando no domingo e terminando no sábado (diferente da primeira edição, em 2014, que teve início numa segunda-feira e se estendeu até o domingo seguinte).
Depois de uma semana marcada por um evento que exalta tudo o que é amatonormativo na sociedade, a Semana da Consciência do Espectro Arromântico oferece a oportunidade de lembrar, ouvir e celebrar as vivências arromânticas e todas as experiências que fogem da amatonormatividade.
Para quem tiver interesse em compartilhar informações e aumentar a visibilidade, vale lembrar: neste ano, a Semana da Consciência do Espectro Arromântico será celebrada entre os dias 16 e 22 de fevereiro.
Um pouco da história da arromanticidade
Na antiguidade, o romance era muitas vezes visto como uma doença que levava os indivíduos a agirem de forma irracional. O casamento, por sua vez, tinha como principal objetivo unir famílias e gerar benefícios econômicos, sendo totalmente desvinculado de sentimentos pessoais ou afetivos.
Foi somente durante o Iluminismo e a Revolução Industrial que o conceito de amor romântico começou a ser valorizado. A ascensão do individualismo e o crescente interesse pela felicidade pessoal proporcionaram um novo cenário, onde as pessoas passaram a buscar sua realização individual, muitas vezes afastando-se das convenções familiares. Esse período foi decisivo para a valorização do romance como um ideal, onde a união de duas pessoas passou a ser vista como a concretização da felicidade, baseada no desejo e na afinidade emocional.
Apesar de a arromanticidade — entendida como a ausência ou diminuição da atração romântica — não ter sido formalmente reconhecida até tempos mais recentes, as manifestações de relações não-românticas sempre existiram. Por exemplo, durante a Dinastia Qing, no Sul da China do século XVII, a Sociedade Orquídea Dourada foi um movimento de mulheres que rejeitavam as normas matrimoniais tradicionais, então escolhiam casar entre si, ou usar o penteado que mulheres casadas usariam para mostrar que não estavam dispostas a se casar, buscando relacionamentos mais livres e autônomos.
A não-limerência
Uma palavra considerada precursora para "arromanticidade" é abordada pela psicóloga Dorothy Tennov no livro Love and Limerence: The Experience of Being in Love (1979), onde ela descreve a condição de estar "apaixonade". Para Tennov, a limerência é uma experiência mental intensa, caracterizada por pensamentos "obsessivos" sobre outra pessoa, acompanhados de um desejo ardente por reciprocidade.
Nota: "Obsessivo" é o termo usado por Tennov, mas seu uso é questionado fora do contexto clínico.
Em contraste, a não-limerência descreve a ausência desse estado de fascinação "obsessiva". Embora a expressão "não-limerência" não tenha sido formalmente utilizada por Tennov, ela sugere a oposição ao estado de limerência.
Assim, pessoas que não vivenciam a limerência — ou seja, que não experienciam esse desejo contínuo por outra pessoa ou os impulsos emocionais típicos de uma paixão romântica — podem ser consideradas, de certa forma, "não-limerentes". Esse termo, portanto, foi adotado de maneira mais informal para descrever indivíduos que não se encaixam no modelo tradicional de atração romântica.
Porém, é importante ressaltar que a não-limerência não se define como uma identidade no sentido clássico, mas como uma ausência do fenômeno romântico predominante na sociedade ocidental. Ela sugere uma experiência que se distancia da convencional expectativa de que todas as pessoas devem, em algum momento, se envolver com intensidade em um relacionamento romântico.
Em certa medida, a não-limerência pode ser considerada um aspecto da arromanticidade, embora este conceito abarque um espectro mais amplo de experiências que vão além da mera ausência de limerência, incluindo uma falta de desejo ou necessidade de relações românticas em si.
A primeira vez
O primeiro registro do uso do termo "aromantic" (tradução em inglês de "arromântique") remonta ao início dos anos 2000, mais especificamente em 2002, dentro de um grupo de discussões no Yahoo! chamado "Haven for the Human Amoeba" (Refúgio para a Ameba Humana).
Em um dos debates, ume usuárie chamade maxnova100 questionava qual seria a terminologia mais adequada para descrever alguém que, embora não se enquadrasse diretamente na categoria de assexual, tinha aversão ao conceito de "relacionamento", particularmente no sentido tradicional e romântico.
Com uma mistura de curiosidade e humor, essu participante sugeriu, como possível resposta, o termo "arromântique", um jogo de palavras que aludia diretamente ao romance, mas com um prefixo que, até então, não possuía um significado amplamente reconhecido.
Abaixo está a postagem de maxnova100, datada de 26 de abril de 2002:

Abaixo está a tradução da postagem:
"É bastante desanimador ver amigues minhes sacrificarem o que antes era importante para elus (amigues, animais de estimação, trabalho, hobbies) por causa de 'relacionamentos' transitórios. Agora, é compreensível que as pessoas façam tais sacrifícios por cônjuges e filhes, mas aquelus que deixam de lado coisas que antes definiam suas vidas para arranjar tempo para um caso que sabem que não vai durar mais do que um mês, isso, para mim, é incompreensível.
Dito isso, eu diria que não sou exatamente assexual (no sentido de que tenho algum desejo sexual, embora provavelmente muito menor do que o 'normal' para alguém da minha idade), mas sim avesso a ter relacionamentos 'românticos'. Eles consomem muito tempo e energia emocional (sempre me senti emocionalmente exauste e cansade após os poucos 'encontros' que tive) e subtraem das coisas que realmente valorizo na vida. A ideia de colocar meus hobbies, trabalho e interesses pessoais em segundo plano para manter uma namorada entretida me parece tão atraente quanto carregar uma bola de ferro de 45 quilos presa aos meus tornozelos.
Isso também não se deve a ser ume 'solitárie', já que aprecio a companhia de todos os tipos de pessoas como amigues e conhecides casuais. Qual seria o termo apropriado para alguém que não é exatamente assexual, mas que teme a ideia de estar em um 'relacionamento'? Aromântique (risos)?"
O termo "arromântique", apesar de sua origem improvisada, logo ganhou um novo significado dentro desse pequeno nicho online, refletindo um sentimento comum entre indivíduos que se distanciavam da amatonormatividade — a ideia culturalmente arraigada de que o romance é um componente essencial da experiência humana e das relações interpessoais.
O surgimento de "aromantic" no vocabulário da comunidade não só contribuiu para a expansão das discussões sobre a diversidade de experiências afetivas, mas também se tornou um marco inicial para o reconhecimento da arromanticidade como uma identidade própria, distinta da assexualidade, embora as duas possam se sobrepor em algumas circunstâncias.
"Assexual-assexual"
No ano seguinte, a AVEN (Rede de Visibilidade e Educação Assexual), postou uma enquete em seu site sobre orientações em seu site. As opções de resposta eram "bi-assexual", "gay-assexual", "hétero-assexual", "assexual-assexual" e "outras", e a adição do sufixo "-assexual" tinha como propósito acompanhar a atração romântica das pessoas. Por exemplo, a opção "bi-assexual" era destinada àquelus que, embora não experimentassem atração sexual, ainda podiam sentir atração romântica por mais de um gênero.
O termo é usado mais uma vez
Contudo, em 2005, um comentário anônimo fez uma proposta que, embora não tenha gerado uma grande onda de respostas na época, acabou por se tornar um marco na construção da terminologia dentro da comunidade. Usuárie sugeriu que o termo "arromântique assexual" seria uma alternativa mais precisa do que a utilização de "assexual-assexual". Embora o comentário tenha passado relativamente despercebido, ele plantou a semente para um debate mais amplo que floresceria nos anos seguintes.
Você pode encontrar o comentário aqui.
A emancipação da comunidade arromântica
Durante os anos 2000, um movimento embrionário começou a dar forma a uma comunidade arromântica propriamente dita. Inicialmente, ela foi percebida como uma extensão da comunidade assexual. Naquele período, a arromanticidade era frequentemente tratada como algo inseparavelmente ligado à assexualidade, como se ambas as experiências fossem intrínsecas uma à outra.
Isso limitava a compreensão sobre o que significa ser arromântico, reduzindo suas particularidades a um simples apêndice de outra orientação. Apesar disso, muitas pessoas encontravam espaços para compartilhar suas vivências em relação ao romance e à atração romântica, mesmo que ainda não existisse um termo consolidado para descrever sua experiência.
Com o passar dos anos, a arromanticidade passou por um processo significativo de evolução, conquistando maior reconhecimento como uma identidade autônoma. Em menos de duas décadas, deixou de ser apenas um elemento periférico dentro da comunidade assexual para se estabelecer como uma orientação singular, com símbolos próprios e histórias únicas.
A trajetória da arromanticidade está intrinsecamente ligada às mudanças nos meios de comunicação e na forma como nos conectamos. Durante os primeiros anos da internet, os debates e trocas de experiências sobre o tema estavam restritos a fóruns especializados e pequenos grupos em plataformas como o Yahoo!, Groups e o LiveJournal.
No entanto, com o advento das redes sociais modernas e a amplificação de vozes marginalizadas, o tema deixou de ser um nicho para ganhar destaque em plataformas de alcance global, como Twitter, TikTok e Instagram. Hoje, a arromanticidade não é apenas reconhecida, mas celebrada, com dias específicos dedicados à sua visibilidade e com discussões que vão além das questões individuais.
Essas discussões abordam aspectos sociais, culturais e políticos relacionados à experiência arromântica. Esse avanço não só fortaleceu a identidade arromântica, mas também desafiou estereótipos e preconceitos que insistiam em reduzir o valor das conexões humanas à presença de um romance.
A comunidade arromântica, ao reivindicar seu espaço e afirmar sua existência, também impulsionou debates mais amplos. Esse movimento representa uma ruptura com padrões culturais que, por séculos, colocaram o romance como eixo central das narrativas de realização pessoal e social. Ele abriu caminho para novas formas de entender outros tipos de conexões interpessoais.
O que a arromanticidade significa?
A arromanticidade é a ausência de atração romântica, e essa ausência pode se manifestar de diferentes formas. Por isso, a arromanticidade pode ser entendida tanto como uma orientação específica quanto como um espectro que não é preto e branco, mas que inclui vários tons de cinza.
Dentro desse espectro, temos a arromanticidade-estrita, que representa a ausência total de atração romântica, e a greyromanticidade, que se refere a uma experiência de atração romântica rara ou limitada, e, portanto, ausente em determinadas circunstâncias.
Originalmente, o termo "arromântique" era utilizado apenas para descrever pessoas assexuais que também não experienciavam atração romântica. Com o tempo, no entanto, a comunidade arromântica se separou da comunidade assexual. Atualmente, pessoas de qualquer orientação sexual podem ser arromânticas.
No Brasil, o termo "arromântique" pode se referir tanto a arromântiques-estrites quanto a greyromântiques. No entanto, no exterior, essa palavra é normalmente usada para descrever o que chamamos aqui de "arromântique-estrite", especialmente quando dirigida a uma pessoa específica. O equivalente em inglês é "suptiliaromantic".
Quando se fala de alguém em qualquer ponto do espectro arromântico, seja aro-estrite ou grey-aro (geralmente se referindo a grey-aros), a comunidade anglófona costuma usar a versão em inglês de "aro-espectral" (aro-espec, para abreviar).
Por isso, a Semana da Consciência do Espectro Arromântico traz em seu nome a referência ao espectro, e não apenas à arromanticidade. A greyromanticidade, também chamada de grey-arromanticidade, arromanticidade-cinza, cinzarromanticidade ou grisromanticidade, refere-se à área cinza do espectro arromântico ou, mais especificamente, a uma experiência rara de atração.
Esse termo pode ser utilizado como uma orientação própria ou como um guarda-chuva para as identidades dentro dessa área cinza. Ele inclui orientações que representam a ausência ou experiência de atração apenas sob certas condições ou em momentos específicos, com uma frequência reduzida, intensidade menor ou fluidez.
Alguém que se identifica como greyromântique pode usar esse termo junto de arromântique, já que essa é uma identidade do espectro arromântico. Essa pessoa também pode se identificar com outras orientações dentro do guarda-chuva da greyromanticidade, como a demirromanticidade, ou com uma orientação guiada por gênero, como a polirromanticidade.
No entanto, é possível que uma pessoa greyromântica não se sinta representada por esse termo, caso se identifique com, por exemplo, a orientação akoirromântica, mesmo que akoi esteja dentro do guarda-chuva da greyromanticidade. Da mesma forma, há grey-aros que utilizam apenas essa identidade para se descrever, e arromântiques que não especificam se são estrites ou greys.
Tode arromântique é assexual?
Embora tanto a arromanticidade quanto a assexualidade se refiram a orientações a-espectrais, elas abordam tipos diferentes de atração. A arromanticidade se refere à atração romântica, enquanto a assexualidade se refere à atração sexual.
As identidades dentro do espectro arromântico possuem versões no espectro assexual, com significados semelhantes. No entanto, em vez de se referirem à atração romântica, falam sobre a atração sexual. Por exemplo, a freyromanticidade descreve a ausência de atração romântica quando há intimidade, enquanto a freyssexualidade descreve a ausência de atração sexual na mesma circunstância. Ambas representam a mesma orientação, mas se aplicam a diferentes tipos de atração.
Além disso, é mais adequado referir-se a orientações apenas pelo seu prefixo (como "orientação bi", "orientação recipro", etc.) quando não se especifica o tipo de atração. Isso ocorre porque uma orientação inclui diversos tipos de atração além da romântica e sexual, como a estética, sensual e platônica.
Diferentes tipos de atração podem estar associados a diferentes orientações. Portanto, uma pessoa arromântica não é necessariamente assexual, e vice-versa. Dentro da comunidade arromântica, existem os aroaces (arromânticos assexuais) e os aroalos (arromânticos alossexuais).
Indivíduos arromânticos alossexuais, que experienciam atração sexual sem restrições (o oposto de assexuais), costumam se identificar com orientações sexuais guiadas por gênero, como abro, pan, bi ou lésbica. Da mesma forma, arromânticos greysexuais podem adotar orientações sexuais semelhantes, enquanto greyromânticos podem ter orientações românticas condicionadas por gênero, já que a atração pode ocorrer nessas circunstâncias.
A ideia de que todo indivíduo arromântico é assexual remonta aos primeiros dias da comunidade arromântica, quando ela era apenas uma seção da comunidade assexual. Isso gerou diversos conflitos, já que muitos arromânticos não se identificavam como assexuais. Esse processo contribuiu para a formação de uma comunidade própria para pessoas arromânticas, sejam elas aces ou alos.
Arromântiques não amam?
O significado de amor, comumente, é reduzido à ideia de romance, pois essa é a forma de afeto mais glorificada na atualidade. Mas é importante lembrar que, em tempos passados, a visão sobre o amor era diferente.
O amor pode se manifestar de várias maneiras, como nas amizades, nas relações familiares e em outras formas de intimidade, tradicionalmente mais valorizadas.
A própria definição de arromanticidade se refere à ausência de atração romântica — que pode ser total, parcial, condicional ou momentânea — e não à incapacidade de amar. No contexto da greyromanticidade, é possível que a atração ocorra com pouca intensidade ou apenas em determinadas condições ou momentos.
Para alguém que é arromântico-estrito (não sente atração romântica de maneira alguma), isso não elimina a possibilidade de experimentar outros tipos de atração, como sexual, platônica, mental, etc. Da mesma forma, a pessoa pode não sentir qualquer atração, o que não representa um problema.
Essas são apenas construções sociais que tentam definir o que cada relação deve ser e qual importância ela deve ter.
Relações fora do padrão romântico-sexual não devem ser desvalorizadas ou inferiorizadas. A família e as amizades, por exemplo, não devem ser deixadas de lado. O fato de serem frequentemente representadas como relações com menor intimidade do que os relacionamentos românticos e sexuais não significa que não possam envolver um alto grau de proximidade e importância.
Além disso, relacionamentos íntimos não precisam ser uma combinação de características românticas e sexuais. Eles podem incluir apenas uma dessas dimensões ou até mesmo fugir completamente desse conceito, como é o caso dos relacionamentos queerplatônicos.
O que são relacionamentos queerplatônicos?
Relacionamentos queerplatônicos ou quasiplatônicos são aqueles com um nível de intimidade superior ao de uma amizade comum, mas que não são considerados românticos pelas pessoas envolvidas. O parceiro queerplatônico é chamado de "PQP" ou "zucchini" (abobrinha, em português). A atração que leva ao desejo de desenvolver esse tipo de relação é conhecida como "atração queerplatônica" ou "atração quasiplatônica". O termo "quasiplatônico" surgiu como uma alternativa para aqueles que não se sentiam à vontade com o prefixo "queer".
A queerplatonicidade pode abranger qualquer forma de relacionamento ou atração que se encaixe nessa definição, servindo como um guarda-chuva para outros termos. Três exemplos de relacionamentos e atrações queerplatônicas são: platônica, alternativa e exterama.
A platonicidade tem suas raízes na ideia de amor platônico, um conceito desenvolvido inicialmente pelos seguidores de Platão para representar um amor sem características sexuais, englobando amizades e relações familiares, já que o romance é geralmente associado ao sexo. A atração platônica refere-se ao desejo de desenvolver um relacionamento semelhante à amizade, mas com um nível maior de intimidade. Em outro contexto, também pode significar o desejo de ser amigo de alguém.
Os termos "alterous" e "exteramos" surgiram para descrever atrações e relacionamentos que vão além do platônico e do romântico. Um relacionamento alternativo se desvia desses dois padrões, podendo estar entre ou além deles, e incluir características de ambos. Já um relacionamento exteramo é completamente alheio a essas definições.
Orientações relacionadas a esses tipos de atração também podem ser usadas, como biqueerplatônico, poliplatônico, analternativo, homoexterame, entre outros.
A maioria das pessoas que se identificam com essas atrações são aroaces, e dentro da comunidade, é possível encontrar algumas que são aplatônicas. Indivíduos simultaneamente aro-estritos e aces-estritos, que experienciam atrações além das românticas e sexuais, são chamados de "aroaces orientados". Essas orientações podem se referir não apenas a queerplatônicas, mas também a atrações como social, sensual e amical.
O que são squishes e plushes?
Dentro da comunidade aroace, algumas pessoas adotam alternativas para a palavra "crush" a fim de representar uma versão não romântica desse termo. O conceito de "crush" está associado ao "amor de cachorrinhos", pois, quando filhotes, os cães tendem a "esmagar" as pessoas com lambidas e contato físico, seguindo o sentido literal da palavra "crush" em inglês. Tradicionalmente, o "crush" se refere a uma atração romântica superficial, frequentemente imatura, pois é um termo comumente utilizado na infância e adolescência.
Por trazer uma conotação romântica e possivelmente sexual, a comunidade aroace sugeriu alternativas para esse termo, mantendo a ideia de "esmagar" ou "apertar". Os exemplos mais comuns são "squish" e "plush". O site da AUREA (União do Espectro Aromântico para Reconhecimento, Educação e Defesa) define "squish" como atração platônica e "plush" ou "squash" como atração queerplatônica.
No entanto, há discussões em fóruns da internet sobre qual termo deve ser utilizado e qual significado atribuir a ele. "Squish" já é utilizado há mais tempo, enquanto "plush" faz alusão à relação entre "platônico" e "crush".
Algumas pessoas sugerem o uso de expressões como "crush platônico" ou "crush de amigue", especialmente ao falar com pessoas leigas no assunto (alossexuais, em geral), ou simplesmente por considerarem "plush" e "squish" termos excessivamente afetivos (mesmo que esse seja o propósito desses nomes).
A AUREA também lista outras versões para diferentes tipos de atração:
- "lush" para atração sensual
- "mesh" para atração alternativa
- "smush" para atração sexual
- "squish" para atração estética
Quais os preconceitos sofridos por arromântiques?
Uma dúvida comum abordada no tópico "Arromântiques não amam?" diz respeito ao entendimento de muitas pessoas de que arromântiques não são capazes de amar. O que ocorre, como foi discutido neste tópico, é que a compreensão popular sobre o amor geralmente se resume ao romance sexual. Isso leva muitas pessoas a desvalorizar e desconsiderar outras formas de afeto.
No entanto, o amor pode se manifestar de várias maneiras, como em amizades, relações familiares ou outras formas de intimidade que não são necessariamente românticas. Essas relações podem até atender a interesses que não são exclusivamente afetivos, como criar filhes, dividir contas ou suprir necessidades emocionais.
O problema surge quando uma dúvida como "Pessoas arromânticas não se atraem por ninguém e não amam ninguém?" é transformada em uma afirmação, como "Nenhuma pessoa arromântica é capaz de se atrair de maneira alguma, portanto, elas não amam ninguém!". Essa afirmação é um exemplo claro de preconceito, pois ignora o verdadeiro significado da arromanticidade e a diversidade das experiências arromânticas.
Além de ser ofensiva, ela pode funcionar como um ataque intencional. A arofobia, ou aromisia, refere-se a qualquer julgamento ou hostilidade infundada contra indivíduos arromânticos, seja por ignorância ou ódio.
Grande parte da arofobia tem origem na amatonormatividade, que é a expectativa de que relacionamentos simultaneamente românticos, sexuais e monogâmicos são uma forma superior e indispensável de amor, e que todes devem ter esse tipo de relação como objetivo de vida. A amatonormatividade se manifesta, por exemplo, em filmes e novelas, onde o final feliz da personagem principal é geralmente uma vida perfeita ao lado de alguém "muito especial", com quem ela forma uma família tradicional.
É essa conclusão que ensina uma meta de felicidade considerada universal e ideal. Muitas pessoas crescem com a ideia de que o único caminho para a felicidade é estar sempre em um relacionamento, porque essa é a única possibilidade de realização apresentada pela sociedade.
Esse modelo de vida, baseado na ideia de uma família de comercial de margarina, aliado à visão de que indivíduos solteiros são imaturos e precisam se casar o quanto antes, cria pessoas dependentes e dispostas a permanecer em relações tóxicas.
Essa norma social leva muites arromântiques a enfrentar dificuldades para entender e aceitar a própria identidade, já que desde pequenes somos ensinades que o grande objetivo da vida é se apaixonar por uma única pessoa e viver com ela para sempre, formando uma família tradicional.
Um medo comum entre arromântiques que pensam em se assumir é ouvir a frase "Você ainda vai encontrar a pessoa certa", como se fosse uma regra universal na vida de todes.
A arofobia também se manifesta na suposição de que, por não sentirem atração romântica da maneira convencional, os arromântiques são fries e incapazes de amar. Algumas pessoas chegam a afirmar que es arromântiques não sabem namorar, dizem que não gostam de ninguém ou que não se atraem por ter passado por algum trauma.
Há também quem acuse es arromântiques de serem hipersexuais ou até mesmo psicopatas.
Qual é a bandeira arromântica?
Existem três bandeiras que historicamente foram usadas para representar a arromanticidade. As duas primeiras, no entanto, têm perdido espaço para a versão mais recente, que se tornou a mais popular. Isso ocorreu porque as primeiras receberam críticas e o design foi aprimorado para representar melhor a comunidade. Embora sejam bandeiras distintas, um elemento comum entre elas é o verde, que está presente em todas as versões.
A primeira bandeira foi proposta em 2011 no site da NCAVA (Coalisão Nacional para Visibilidade Arromântica), que atualmente está desativado. Ela é composta por quatro faixas horizontais de tamanho igual:

A primeira faixa, verde, representa es arromântiques e simboliza a oposição ao romance (com sua cor oposta, o vermelho). A segunda faixa, amarela, é para "amizades românticas, amizades coloridas e ficadas de amigues", já que rosas amarelas representam a amizade.
A terceira faixa, laranja, é para es akoirromântiques (aquelus que não experienciam atração romântica sem reciprocidade ou que não desejam que a atração seja recíproca). A quarta faixa, preta, é para es alorromântiques (aquelus que sentem atração romântica sem limitações e que rejeitam a cultura do romance tradicional). No entanto, essa proposta foi criticada, como listado pelo Tumblr "aromanticnerd".
As críticas incluíram o fato de que a bandeira não foi discutida com a comunidade. Embora haja um espaço para akoirromântiques, não há para greyromântiques e demirromântiques, que são identidades mais conhecidas e mais presentes. Além disso, a última faixa inclui pessoas que não fazem parte do espectro arromântico. O design também se assemelha à bandeira do movimento rastafári (verde, amarela e vermelha), especialmente considerando que ela pode ser acompanhada por uma faixa preta.
Em 2014, o perfil "cameronwhimsy" postou uma alternativa em seu Tumblr. Segundo elu, a comunidade estava "discutindo essa merda por já 2 anos", e essa nova versão "era mais tranquila para os olhos" do que a primeira. "Esse foi o resultado de várias horas lendo discussões em fóruns e mexendo com cores".

Nessa versão, o verde continuava representando es arromântiques, mantendo o mesmo simbolismo. O verde-claro foi adicionado para incluir todo o espectro arromântico. O amarelo foi mantido para representar es akoirromântiques, enquanto o cinza foi incluído para representar oles greyromântiques e demirromântiques, atendendo à demanda de maior representatividade. O preto passou a simbolizar os quoirromântiques, aquelus que têm incertezas sobre sua atração romântica ou que rejeitam definições para ela.
Ainda em 2014, elu revisou o simbolismo da bandeira em um post, que foi incluído na versão mais atual. A nova bandeira e seu novo significado surgiram após uma sugestão de um usuário anônimo, que apontou que a combinação entre verde, amarelo e preto lembrava a simbologia da bandeira da Jamaica.

A versão mais recente tem a seguinte configuração: verde e verde-claro representam a arromanticidade e o espectro arromântico, abrangendo toda a identidade aro-espectral. O branco simboliza a importância e a validez dos sentimentos, atrações e relações não-românticas, incluindo a queerplatonicidade, a amizade e a família. Por fim, o cinza e o preto representam o espectro das sexualidades, já que arromântiques podem ter qualquer orientação sexual, sendo assexuais ou alossexuais.