Quais as diferenças entre as orientações bi e pan?
A discussão sobre as diferenças entre as orientações bi e pan — junto a palavras que designam tipos de atração, como “sexual”, “romântique” e outras — é recorrente, mas frequentemente envolta em equívocos e mal-entendidos. Enquanto ambas as orientações compartilham a característica de não serem mono-orientadas, seus significados, histórias e vivências se entrelaçam e, ao mesmo tempo, divergem. Este texto pretende explorar essas nuances, destacando as peculiaridades de cada termo, o contexto em que surgiram e os debates que permeiam suas definições.

Antes de tudo, é preciso entender que a orientação bi é caracterizada pela atração por dois ou mais gêneros. Tradicionalmente, entende-se que pessoas bi se sentem atraídas por dois gêneros — não necessariamente mulher e homem, ou pelo próprio gênero e por outros gêneros — ou mais. Isso pode, por exemplo, incluir identidades de gênero não-binárias específicas. Assim, essa orientação pode não ser delimitada, mas também não é exclusivamente voltada a todas as possibilidades. Pessoas bi podem não se atrair por todas as identidades de gênero (ou podem).
Por outro lado, a orientação pan descreve a atração por pessoas de qualquer identidade de gênero ou uma atração que não é determinada pelo gênero. A diferença entre estas definições é que, na primeira, o gênero é um fator importante para a atração, enquanto, na segunda, o gênero é irrelevante; a atração não muda com o desconhecimento ou conhecimento do gênero de cada pessoa. Por isso, algumas pessoas pan possuem preferência por certa(s) identidade(s) que influenciam sua atração, enquanto outras não veem como isso pode ser possível.
Numa análise de definições, essa distinção pode parecer sutil, mas na prática há diferenças entre essas orientações. Além disso, é importante considerar o contexto histórico de cada uma. A orientação bi tem um reconhecimento mais antigo e foi amplamente discutida durante os movimentos nas décadas de 1960 e 1970. Naquela época, em uma sociedade eurocêntrica ocidental, as identidades de gênero eram restritas a duas, e não se debatia muito a respeito da existência de identidades não-binárias. Nesse contexto, surgiu o movimento bissexual, com foco em desafiar a heteronormatividade e reconhecer que as pessoas podiam se sentir atraídas por mais de um gênero. Isso não significa que a orientação era exorsexista ou exclusionista; apenas estava inserida em um período distinto, que evoluiu com o tempo.
O Manifesto Bissexual, publicado em 1990, reflete essa transformação:
"Bissexualidade é um todo, uma identidade fluida. Não assuma que a bissexualidade é naturalmente binária ou poligâmica: que temos 'dois' lados ou que precisamos estar envolvides simultaneamente com dois gêneros para sermos seres humanos completos. De fato, não presuma que existem apenas dois gêneros."
Pessoas bi reconhecem, há muito tempo, que existem mais de dois gêneros. Seu caráter fluido, descrito no manifesto, pode abranger quase qualquer tipo de orientação múltipla, incluindo a atração independente de gênero que a orientação pan abarca.
A orientação pan, por sua vez, ganhou maior visibilidade e definição nos últimos anos, particularmente à medida que a compreensão de gênero se tornou mais complexa e inclusiva. Ela surgiu em parte para enfatizar a atração por pessoas independentemente de seu gênero, respondendo à necessidade de um termo que abraçasse a diversidade de experiências identitárias que vão além do binário de mulher e homem.
Portanto, a diferença entre as orientações bi e pan também está no propósito histórico de suas criações. A orientação bi surgiu em um contexto onde o reconhecimento de múltiplas atrações era crucial para o avanço dos direitos LGBTQIAPN+. Já a pan se desenvolveu em um cenário mais recente, focado na inclusão de todas as identidades de gênero e na expansão do entendimento sobre a diversidade de gênero.
A principal diferença entre elas está na inclusão de gêneros e no foco da atração. Enquanto a bi é tradicionalmente entendida como atração por dois gêneros, muitas pessoas bi reconhecem que sua atração pode incluir múltiplos gêneros, inclusive pessoas não-binárias. Já a pan especifica que a atração não leva em conta o gênero, focando na pessoa em si, independentemente de sua identidade de gênero.
Algumas pessoas escolhem se identificar como bi porque essa identidade é mais reconhecida e compreendida socialmente. Outras preferem a pan para enfatizar a inclusão de todas as identidades de gênero e a natureza sem gênero da atração. Ambas as orientações são válidas e importantes, e a escolha entre se identificar como bi ou pan pode depender de como a pessoa se vê em relação ao gênero e à atração.
As orientações bi e pan não são inimigas. Apesar de suas similaridades, cada termo tem seu espaço, sua história e sua relevância. O mais importante é respeitar a escolha de rótulos e compreender que a multiplicidade de identidades enriquece a luta por visibilidade e aceitação. A melhor escolha de rótulo é aquela com a qual a pessoa se sente confortável. Alguns rótulos podem carregar conotações negativas ou serem considerados imprecisos, enquanto outros, menos populares, podem ser vistos como “modinha” ou “inúteis”.
Vale lembrar também que é possível usar mais de um rótulo simultaneamente. Muitas pessoas se reivindicam bi e pan, ou bi e poli, ou pan e omni, ou bi, poli e pan — e assim por diante.