Sobre orientações a-espectrais
A orientação a- descreve uma experiência marcada pela ausência de atração, englobando tanto aquelus que não a sentem de forma alguma quanto aquelus que a experienciam de maneira esporádica ou atípica em comparação aos padrões típicos de atração romântica ou sexual. Esse conceito abrange identidades como as de pessoas arromânticas, assexuais, assensuais, analternativas, entre outras. Embora essas identidades pertençam ao espectro a, é incorreto generalizar que todes com orientações terciárias se identifiquem também como arromântiques ou assexuais.
Em publicações anglófonas, a orientação a- é comumente descrita como ausência de atração por qualquer gênero, mas essa definição não exclui pessoas grey e demi-as, que, mesmo sem serem arromânticas ou assexuais, fazem parte do espectro a. No contexto lusófono, a orientação a é frequentemente tratada em conjunto com seu espectro de identidades, acolhendo todes que se identificam com ele.
As definições convencionais de assexualidade geralmente descrevem ausência de desejo ou interesse em relações sexuais, e, por vezes, até repulsa a elas. No entanto, essas abordagens frequentemente ignoram o conceito de atração como parte da orientação, limitando a compreensão do que caracteriza a assexualidade. Assim, torna-se fundamental destacar que a ausência de atração não é uma escolha, mas uma condição involuntária; a atração é um processo inconsciente, moldado por diversos fatores que influenciam sua presença ou ausência.
Historicamente, orientações a-espectrais estão relacionadas aos primeiros estudos sobre comportamento sexual. O livro Safo e Sócrates, de Magnus Hirschfeld, publicado em 1986, descreve assexuais como pessoas desprovidas de desejo sexual. Outro exemplo é a escala de Kinsey, desenvolvida por Alfred Kinsey em 1948 e 1953, que incluiu uma categoria “X” para indivíduos sem contatos ou reações sociosexuais, uma noção precursora da orientação a-. Em 1983, Paula Nurius também abordou a assexualidade em seus estudos, ainda que sob uma perspectiva limitada, focada nas categorias tradicionais de orientação.
No cenário contemporâneo, os primeiros contatos entre pessoas assexuais ocorreram nos anos 2000, impulsionados pela internet. Em 1997, Zoe O'Reilly publicou o artigo Minha Vida Como uma Ameba no StarNet Dispatches, onde os comentários de leitories que se identificaram com sua experiência foram essenciais para a formação de uma proto-comunidade assexual. A primeira comunidade a se consolidar foi o grupo de e-mails "Haven for the Human Amoeba", criado em 2000. Em 2001, David Jay fundou a AVEN (Rede Assexual de Educação e Visibilidade), que fomentou discussões sobre a assexualidade e o espectro A.
Uma das principais discussões no início envolveu a distinção entre “arromântique” e orientações românticas. No início, assexuais que sentiam atração não sexual, geralmente identificada como atração romântica, eram chamados de “bi-assexuais” ou “hétero-assexuais”, enquanto aquelus sem atração eram conhecides como “assexuais-assexuais”. Eventualmente, a designação “arromântique assexual” foi adotada e expandida, dando origem a outras identidades como “panromântique” e “homorromântique”. Esse debate ajudou a consolidar o conceito de orientação romântica, que ganhou espaço e foi amplamente adotado, principalmente por pessoas aroaces e variorientades, e abriu caminho para novos tipos de orientações, como alternativas e queerplatônicas.
Com o passar do tempo, houve uma ampliação na conscientização sobre a arromanticidade, levando à criação de um espaço específico para que aroalos (arromântiques alossexuais) pudessem se expressar dentro da comunidade aro, sem interferir nas questões dos assexuais. Embora aroaces e aces tenham orientações distintas, elus mantêm uma ligação importante no que diz respeito às lutas e vivências compartilhadas.
Na década de 2010, novos termos relacionados às orientações a-espectrais começaram a emergir, ampliando ainda mais a diversidade de identidades no espectro, ainda que muitas vezes esses termos sejam pouco reconhecidos fora da comunidade aroace. Com o tempo, esse cenário pode se transformar, assim como ocorreu com o reconhecimento da arromanticidade.